Práticas Integrativas e Complementares no Manejo da Dor Crônica Musculoesqueléticaa
Práticas Integrativas e Complementares no Manejo da Dor Crônica Musculoesquelética
A Organização Mundial da Saúde (OMS) vem estimulando nos últimos anos o uso das práticas tradicionais/complementares/alternativas nos sistemas de saúde de forma integrada às técnicas da medicina tradicional. Nessa ampliação, a proposta é valorizar os avanços da medicina convencional e ao mesmo tempo reconhecer e integrar outras práticas de cuidado em saúde. Desta forma, o Projeto Movimento traz hoje um texto sobre Práticas Integrativas e Complementares no Manejo da Dor Crônica Musculoesquelética com colaboração do fisioterapeuta e professor Bernardo Diniz Coutinho do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Ceará – UFC.
Mestre em Saúde Coletiva, Política e Gestão em Saúde pela UNICAMP. Especialista em Acupuntura pela Associação Brasileira de Acupuntura (ABA). Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase nos Modelos de Atenção à Saúde, atuando principalmente nos seguintes temas: Práticas Integrativas e Complementares, Medicina Tradicional Chinesa/Acupuntura, Fisioterapia em Ortopedia e Traumatologia. Contato: bdc.ufc@gmail.com
As formas não convencionais de cuidado à saúde denominadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como Medicina Tradicional e Complementar/Alternativa (MT/MCA), desde a década de 70, vem tendo um incentivo por parte desta organização para implementação de políticas públicas da MT/MCA na Atenção Primária da Saúde. No Brasil, desde 2006, com a publicação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, tem-se buscado incorporar este modelo de atenção em todos os níveis do sistema, principalmente na Atenção Básica.
A Medicina Tradicional e Complementar Alternativa são práticas que buscam estimular os mecanismos naturais de prevenção de agravos e promoção da saúde, por meio de tecnologias eficazes e seguras, com ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade. Compreende uma perspectiva vitalista, centrada na experiência de vida do indivíduo e não na doença, de forma integradora com caráter não intervencionista.
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) utiliza linguagem que retrata simbolicamente as leis da natureza e que valoriza a inter-relação harmônica entre as partes visando à integridade. A Acupuntura, por exemplo, é uma técnica de intervenção em saúde que aborda de modo integral e dinâmico o processo saúde-doença no ser humano, podendo ser usada isolada ou de forma isolada ou integrada com outros recursos terapêuticos. Compreende um conjunto de procedimentos que permitem o estímulo preciso de locais anatômicos através da inserção de agulhas filiformes metálicas para promoção, manutenção e recuperação da saúde, bem como para prevenção de agravos e doenças.
Uma vez que essa estimulação provoca a liberação, no sistema nervoso central, de neurotransmissores e outras substâncias responsáveis pelas respostas de promoção de analgesia, restauração de funções orgânicas e modulação imunitária, muitos estudos apontam a eficácia da técnica no tratamento da dor crônica músculo esquelética. No estudo de Cho et al., 2013, que teve o objetivo de verificar a eficácia da acupuntura na redução de dor em pacientes com dor lombar crônica, observou-se em uma amostra de 30 indivíduos com idade entre 18 e 65 anos diferenças significativas na pontuação da escala visual analógica de dor para incômodo e intensidade da dor no final das 8 semanas de tratamento com acupuntura.
Além da acupuntura, a MTC inclui ainda práticas corporais (liangong, chi gong, tuina, tai-chi-chuan); práticas mentais (meditação); orientação alimentar; e o uso de plantas medicinais (Fitoterapia Tradicional Chinesa), relacionadas à prevenção de agravos e de doenças, promoção e recuperação da saúde. O Tai Chi Chuan, por exemplo, surgiu na China como arte marcial, contudo, devido ao seu caráter extremamente terapêutico, este lado ganhou mais atenção e adesão ao longo do tempo. O Tai Chi consiste de um sistema de movimentos desenvolvido de forma lenta, contínua e circular, unidos a uma respiração profunda.
Como uma atividade física de natureza aeróbica, intensidade moderada e de baixo impacto devido aos seus movimentos lentos, circulares e contínuos, ele promove significativos benefícios pessoais, tais como: melhor desempenho nas atividades diárias, longevidade, relaxamento, autocontrole, disciplina, harmonia e saúde mais equilibrada, além de proporcionar tranquilidade, concentração, fluidez, suavidade, equilíbrio, centralização, continuidade, coordenação motora, harmonia do corpo e da mente, regularização da pressão sanguínea e arterial, combate com muita eficiência ao estresse e a ansiedade e um forte aliado nos tratamentos de doenças como fibromialgia, bursites, tendinites e dor crônica musculoesquelética.
Numa pesquisa realizada por Wang et al. em 2010, que teve por objetivo avaliar os benefícios do Tai Chi em 33 pacientes com fibromialgia em comparação com o grupo controle que consistia em educação e bem-estar para o tratamento da fibromialgia. As sessões tinham duração de 60 minutos, duas vezes por semana durante 12 semanas para cada um dos grupos de estudo. Os resultados foram avaliados a partir de questionários (Fibromialgia ImpactQuestionnaire (FIQ) e Short-Form Health Survey (SF-36)) e no final das 12 semanas os desfechos foram reavaliados, mostrando que o grupo de Tai Chi obteve melhorias clinicamente importantes na pontuação total FIQ e qualidade de vida. Esses efeitos foram mantidos ao longo de 24 semanas e não foram encontrados efeitos adversos.
Esse estudo pôde concluir que o Tai Chi Chuan pode ser um forte aliado no tratamento da fibromialgia, essa técnica é muito embasada na literatura científica e estudos anteriores já haviam sugerido que o Tai Chi oferece benefícios terapêuticos em pacientes com dor crônica musculoesquelética. Em geral, a prática dessas atividades integrativas e complementares trazem benefícios ao indivíduo em diversas interpretações trabalhando o equilíbrio entre corpo e mente, trazendo impacto positivo a soma de cuidados que o paciente com dor crônica deve buscar e receber.